CHUVAS DE RECIFE
Poema de Antonio Miranda
Chuvas de Recife
sol ardente em Jequié
brilham olhos choram
na criança sem pão,
pisando poças de agora.
Reflete a poça um céu injusto e mau,
céu dos homens que esperam,
prometem e esperam
a salvação divina:
sola dos pés inseguros,
espraia a poça a criança.
Porque a fome é de graça
no Nordeste,
seja ela uma oferta divina
ou imposta pelos homens.
Porque racham os pés
como racha a terra
à ausência das chuvas
quando a morte é contingência
o latifúndio assa os ossos
fome
o excesso de lucros,
meninas amanteigadas
da burguesia de Recife,
no Internacional, no Clube Português,
a “a alta renda per capita” de Itabuna
para o ufanismo de alguns,
como se a divisão fosse equitativa.
Recife, 1963
Ilustração gerada por IA, por
Nildo Moreira, em 2025.
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